Diários do isolamento, dia 7

Silvana Salles
3 min readMar 26, 2020

Trilha sonora deste post: as intermináveis duas horas de Jornal Nacional desta quarta-feira, 25

Trabalhadores da saúde deixaram a província de Hubei depois de meses de trabalho reforçando o sistema de saúde da região. (Não pedi permissão para usar, mas a foto é da Xinhua).

Enquanto a Índia entra no confinamento, a província de Hubei, na China, sai. Hoje, pela primeira vez em dois meses, Hubei se reconectou com o resto da China e seus mais de 50 milhões de habitantes receberam autorização para, finalmente, sair de dentro de casa. Ainda não é todo mundo que poderá sair, mas deve ser um baita alívio ter no horizonte que vai acontecer. Até 8 de abril, mais restrições serão eliminadas.

É verdade que como encerrar as medidas de distanciamento social é algo que continua a preocupar os cientistas e autoridades de saúde. Se for cedo ou repentino demais, o relaxamento dessas medidas pode resultar em um segundo pico da doença em lugares que já a tinham controlado. Esse risco foi, inclusive, o principal tema da coletiva da Organização Mundial de Saúde nesta quarta-feira.

Aliás, acabou de sair na publicação científica Lancet Public Health um artigo que trata justamente desse problema. Com base em dados de Wuhan, os pesquisadores afirmam que as rígidas medidas de distanciamento determinadas pelas autoridades chineses tiveram o efeito positivo de retardar o pico da epidemia e dar tempo e oportunidade para o sistema de saúde se equipar e reagir. Mas quando relaxar essas medidas? No cálculo desses cientistas, que fazem parte de um grupo de trabalho sobre covid-19 sediado na London School of Hygiene & Tropical Medicine, o ideal seria levantar as restrições em Wuhan gradualmente, a partir do começo de abril — daqui a alguns dias, portanto.

Por aqui, não parece que o isolamento vá terminar tão cedo. Se a gente puder tomar como parâmetro o formato das já famosas curvas epidemiológicas de cada país, tudo indica que a situação no Brasil está mais para Europa do que para China: ainda longe de controlar a disseminação da epidemia. (Dá para consultar as curvas nesse mapa interativo da Universidade Johns Hopkins).

O que não quer dizer que estejamos imunes às opiniões totalmente descabidas — para não dizer criminosas — do presidente Jair Bolsonaro. Assistindo agora ao Jornal Nacional, fico sabendo de relatos sobre pessoas, idosos inclusive, que se sentiram à vontade para pegar ônibus, circular por aí, sem se preocupar com a pandemia. Por outro lado, o pronunciamento de Bolsonaro ontem gerou uma onda de repúdio que foi desde associações progressistas de saúde até o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, que até então era aliado do presidente.

Enquanto os acontecimentos políticos se desenrolam, aqui no pequeno universo do home office, estou com um projeto pessoal de testar vários aplicativos de yoga para decidir qual é o mais legal. A meta: sair da quarentena sem crise na coluna lombar. Recursos despendidos: mais ou menos meia hora de exercício por dia.

E vocês, o que tem feito para exercitar o corpo nesses dias em que a mente anda bastante carregada? Fica aí um assunto pro post de amanhã.

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Silvana Salles

Uma jornalista que foi estudar história e ciência política. Gosta de falar sobre livros e participação política. Mestranda em ciência política na Unicamp.